segunda-feira, 22 de setembro de 2008


 

Psicoterapia: Surpresa e liberdade de ser.

Ao longo de quase trinta anos de carreira acompanho pessoas a reconstruir suas vidas,a se sentirem mais á vontade com seu cotidiano cheio de desafios e frustrações.Todos,inclusive os terapeutas,passam por momentos de duvida,apreensão ,solidão e medo,portanto,somos todos parceiros de uma caminhada,cada qual com sua peculiaridade ,que se assenta num pano de fundo comum ,a pulsação da vida.

Terapeutas experientes sabem que não somente os conhecimentos teóricos fornecem o substrato necessário para se lidar com as questões humanas que são o cotidiano nos consultório de psicoterapia.A pessoa do psicoterapeuta ,suas escolhas e crenças,seus amigos,seus amores,obrigações,sua fé,aliados á sua formação o preparam para o desafio de estabelecer com seu paciente uma relação suficientemente dinâmica,espontânea e de consideração incondicional . Há tanto o que se cuidar num relacionamento terapêutico,tantos fluxos não previstos que não há como padronizar ou empacotar a psicoterapia em formulas fixas na tentativa de tornar o processo mais controlado e previsível.Isto não é possível ;não há sequencia prescrita ou "exercício"definidos a cada semana se desejamos que a psique nos fale a seu modo e se respeitamos o ritmo de cada paciente que temos a frente.

Nesse sentido a psicoterapia foge ás tentativas de limitar cronologicamente sua duração,esse tempo que é linear e que tem pouco ou nada a ver com tempo psíquico ou com os limites e regras do seguro-saúde.Nossa mente escapa ,nos prega peças,surpreende médicos e analistas.

Um de meus mestres ,Jung dizia da importância a ser dada a singularidade do mundo interno das pessoas,sugerindo que o terapeuta deveria se empenhar em criar seu próprio método,adaptando-o a cada paciente.Propunha ainda que a personalidade do psicoterapeuta e a relação estabelecida com seus clientes era o fator determinante de cura e transformação.Outro mestre querido,Dr. Petho Sandor,quando orientava observação cuidadosa dos ritmos corporais lembrava que a remoção dos obstaculos ,as tensões musculares,respiratórias e de postura permitiriam a reorganização necessária ao paciente ,sempre que regado a muita atenção e interesse aos detalhes das conversas nas sessões.Dar atenção e ensinar a te-la com os aspectos de nossa vida pessoal costuma trazer muito conforto e é peça chave do trabalho pois particulariza cada encontro.Esta idéia está na base dos projetos de humanização do atendimento clinico em hospitais e outras instituições .

Ao longo de uma terapia ocorrem grandes e pequenas respostas ás questões que espontaneamete o paciente faz ao terapeuta .Um novato pode ficar preocupado em como responder á isso ,de deve ou não fazê-lo;a técnica e seus mandamentos vem á baila como referencia e apoio.Mas é preciso ir além e confiar no gesto natural e isto só se faz com a experiência,com vida vivida,gostando de estar com gente,aberto ao sofrimento. O processo psicoterápico é tão artesanal que para alguns uma pequena correção nas atitudes basta,para outros é necessário uma profunda retrospecção e ver o quê do passado ainda não passou.


 


 

Questões desvendadas aqui e agora ajudam a dar significado a toda uma historia pregressa.

Vejam ,por exemplo,o crescimento dos casos de depressão e pânico nos consultório.Temos como entorno uma sociedade atual mimada,espetacular,condenada á felicidade sem fim,superabastecida até o estupor.No entanto os indivíduos estão tristes,angustiados e deprimidos e mais do que consolo precisam ter sua dor reconhecida ,de preferência na companhia de um terapeuta interessado e paciente que possa ajudar a suportar as tensões da existência. Isto não se faz com programas breves. Mesmo a vasta e preciosa medicação psiquiátrica pede do médico consideração criteriosa e individualizada de modo a minorar o desconforto e ainda assim permitir que o processo de descoberta de si mesmo possa ocorrer.

Caminhamos no sentido da individualização,da especificidade e da subjetivação.Padronização serve ás leis gerais mas a vida nossa de cada dia pula fora da caixa e nos surpreende.


 


 

Denise M.Molino é psicoterapeuta junguiana e coordenadora de grupos de estudos e supervisão.Atende em seus consultórios em S. Paulo e Jundiaí.

e-mail: dmmolino@hotmail.com


 

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