segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sanidade e Loucura


 


 

O conceito de sanidade é pouco pesquisado.Há tratados sobre a loucura ;há grandes personagens loucos como o rei Lear em Shakespeare mas personagens sãos não obtem destaque , nem aparecem em poemas ,títulos de obras ou até mesmo em piadas .Nossa cultura teme a loucura e nutre por ela um surdo fascínio , colocando-a como prerrogativa dos artistas em sua exuberante criatividade.

Louco Para Ser Normal é o novo livro do psicanalista inglês Adam Phillips , editado pela Zahar , autor do excelente Beijo,Cócegas e Tédio , que de forma clara e original nos mostra quão delicado é o equilíbrio entre sanidade e loucura e da necessidade de definições mais adequadas á modernidade. Trabalhando com conceitos históricos e literários , busca na psiquiatria de R. Laing , Melanie Klein e D. Winnicott e na biologia de R. Dawkins , alguns parâmetros e comparações para depois adentrar na ficção de Shakespeare e Geoge Orwell.

Phillips aproxima a loucura do nosso cotidiano através do exame da vida inicial dos bebês , da crise da adolescência , nas caracteristicas do desejo sexual , e na relação com o dinheiro , apresentando notas sobre a definição de sanidade . Através de três diagnósticos psiquiátricos ,o encapsulamento no autismo infantil , a esquizofrenia e a questão da vitalidade e da auto-estima na depressão faz paralelos e comparações entre os dois conceitos. Podemos então refletir sobre a loucura como confusão , agressividade ou frustração demais , como desenvolvimento defeituoso , como espera insuportável e como falta de esperança. A sanidade , podemos pensá-la como violação de tabus , como consciência tolerável de nossos limites , como vitalidade preservada , como fé e até como sorte por ter nascido com quantidades certas de emoções para não odiar o desejo nem nosso corpo ,nem o querer .

No capitulo sobre o dinheiro passeia pelos estragos produzidos pela cultura ao estabelecer como amá-lo e como este amor nos leva para longe dos valores que prezamos .

Ao final propõe a sanidade como capacidade de suportar as tensões das experiências , nas diferentes escolhas que fazemos , no reconhecimento da s implicações éticas dos atos , na consideração dos efeitos devastadores da humilhação e sobre a importância da esperança.

Com arte ,profundidade e graça A.Phillips surpreende pelas provocações que faz ao nosso pensar, áquilo que tomamos como certo em nosso saber . A surpresa e o inédito , fonte de tantas ameaças ás posições cristalizadas encontra neste novo volume um grande aliado.


 

Denise M. Molino .


 

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